terça-feira, 21 de janeiro de 2014

MÉTODO CIENTÍFICO



A propósito de uma simpática carta de leitor da área médica, fiquei pensando nos inúmeros anos que gastei procurando os caminhos das minhas pesquisas. Sempre devi muito a pessoas mais experientes, no entanto, elas só podiam me ajudar se eu tivesse construído minhas dúvidas, as hipóteses de trabalho, o experimento e, finalmente a conclusão, que poderia negar ou confirmar as hipóteses. Neste longo caminho encontrei pessoas incríveis. Indiretamente, o Claude Levi-Strauss; depois, diretamente, aqueles a quem chamo de demônios tutelares: Sérgio Buarque de Holanda, Pedro Moacyr Campos, Victor Deodato, Heitor Guilherme Segundo Medina, Veronesi, entre outros tantos.

Interagi sempre com colegas que estavam pelos mesmos caminhos, reencontrei-os nos botequins da vida e, finalmente, vi meus alunos chegando ao topo das carreiras universitárias, com tanto sacrifício quanto eu. Mas isso tudo não passa de uma veleidade acadêmica, pois creio cada vez mais que nascemos com a metodologia cientificamente instalada em nossos cérebros, e a cultura mesquinha a que pertencemos apenas destrói os pressupostos iniciais para fazer com que nos enquadremos numa estúpida moral burguesa que chega até a negar  o biológico para instalar aquilo que chamam de "bons costumes".


Uma criança está sempre pronta a xeretar o resultado dos seus movimentos. Se faz cocô, não vê nada errado em experimentar a textura e o odor daquilo que o seu corpo expulsou. Depois, com ensaios e erros, aprende a andar, e então vai sendo "educada" para se tornar um ser social que não arrote em público, ainda que isso lhe cause  uma terrível aerofagia. Vai à escola onde enfrenta uma alfabetização precária e leva uma vida inteira para só então entender que a escrita foi o mais cruel instrumento de dominação do mundo em seus primeiros avanços. Assim, quem lê mais e melhor, tem chances de dominar e contabilizar com mais eficiência os outros grupos sociais.


Comprei de um sebo de Salvador, os três volumes da História Crítica da Teoria da Mais Valia, numa edição do Fondo de Cultura Economica (México), de 1945. Marx escreveu essa amplíssima obra antes de compor "O Capital", e seus escritos só foram compilados no início do século XX pois ele não os considerava importantes. Estuda dos fisiocratas a Adam Smith, passa por Ricardo, Malthus, Ramsay, Cherbuliez  e Richard Jones, até estar apto à construção de "O Capital", do qual poucos marxistas tiveram a honra de ler completamente. Eis aqui uma demonstração de Método. Ninguém chega ao final de um pensamento se não o houver elaborado em todos os passos. É querer demais? Não. Somos anões no ombro de gigantes, ainda que eles mesmo não tenham idéia de como são grandes.



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