Nossa Presidente sancionou lei que confirma a
assistência da Saúde Pública aos abortos acontecidos dentro do que já era legal
anteriormente: casos de gestação decorrente de estupro, saúde em risco da
mulher... e por aí vai. Na verdade, a prática do aborto é onipresente na nossa
sociedade. Só que há uma barreira entre os despossuídos e os mais bem
aquinhoados de dinheiro, e é certamente na categoria dos mais pobres que
costuma aparecer o assustador número de óbitos de jovens que abortaram seus
fetos em condições clandestinas, muito abaixo das normas de assepsia exigidas
pelo padrão médico.
O martelo batido por Dilma Roussef na questão deve de
princípio colocar um ponto final nos debatedores da causa anti-aborto, mas
cabem ainda algumas considerações sobre o assunto, pelo menos por parte de
alguém que não está engajado na causa pois o problema não se coloca mais.
Sinto muito que haja sobre a Presidente tamanha
pressão de grupos religiosos; afinal o Estado é leigo e assim deverá permanecer
enquanto república federativa. Mas as crianças brasileiras precisam de melhor
assistência na área de educação sexual, pois elas são pré sexualizadas e,
depois não tem respaldo técnico na hora de sua iniciação neste terreno.
Nos
dias de hoje, espera-se que as mulheres dediquem um tempo maior em sua formação
para o mercado de trabalho, porém não existem cuidados de proteção a estas
mesmas mulheres. E o instinto sempre fala mais alto. Uma visão antropológica
nos mostra que, nas sociedades antigas uma moça podia ser dada em casamento
logo após a primeira menstruação, uma vez que o papel feminino estava restrito
às tarefas do lar. Hoje não é mais assim, no entanto a sociedade não se
aparelhou para estas profundas modificações. Refiro-me aqui às técnicas contraconceptivas.
Mas, para além destas gestações acidentais existe o caso do estupro, que é uma
violência absurda. Ora, como passar tantos meses na vida tendo dentro da
barriga uma criatura híbrida, entre o amor próprio e o ódio? Porque submeter
uma moça a meses de tortura?
Tive três filhos na minha vida. O primeiro morreu
com 3 dias. Os outros dois são gente adulta, forte, vigorosa, com princípios éticos
inquestionáveis. Fui muito feliz em minhas gestações e penso que qualquer
mulher normal possa sê-lo. Mas, ser vítima de um algoz e depois vítima do
resultado da violência, é uma penalização duplicada e estúpida a alguém que nem
sequer é réu.
Por esta e outras razões, gostaria muito que os
arautos da fé calassem a boca em matéria que é alçada da psicologia clínica, e
não das religiões. Em tempo, por razões pessoais eu jamais faria um aborto,
ainda que reconheça a necessidade de oferecer tratamento humano a quem precisa
fazer uso dele dentro do amparo da lei.
Um comentário:
Gostei Ivone e concordo em número, género e grau... Beijo!!!
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