sexta-feira, 12 de julho de 2013

ESTE DEFUNTO É MEU



Por vezes somos levados a pensar que somos os donos das baixarias. Não é bem assim. Onde quer que haja seres humanos, a mesquinharia, a loucura, a falta de compostura estão presentes, pois são comportamentos típicos de toda a humanidade. Nos últimos tempos, um fato causou estranheza, pois envolvia um homem que mereceu o Prêmio Nobel da Paz.
Falo do Nelson Mandela, líder sul-africano, homem que se destacou pela luta contra o Apartheid, vegetou anos na cadeia por sua ousadia de entender que brancos e pretos tem os mesmos direitos.Agora, preso ao leito de um hospital,sabedor de sua condição de homem em fim de vida, deixou manifesto aos parentes que gostaria de ser sepultado no cemitério de Qunu, local onde foi criado e estão sepultados três dos seus filhos. É um desejo banal e simples, dentro da candura que sempre caracterizou o líder negro.
Mandela, nascido em 18 de julho de 1918 na aldeia de Mvezo, um dos rincões tribais da África do Sul, fez de sua vida uma constante luta pelos direitos humanos. Casou-se três vezes. Das primeiras duas mulheres,teve prole numerosa. Da última, Graça, viúva de Samora Machel, não estava mais em tempo de fazer vir ao mundo novos rebentos. Sua longevidade, no entanto, fez com que alguns dos seus filhos lhe antecedessem no reino dos mortos, e os três falecidos foram sepultados no cemitério de Qunu, aldeia muito cara a Mandela, pois ele foi criado lá.
Ora, o grande senhor dono de um dos mais nobres prêmios do planeta, já andava com a saúde bastante abalada quando, em 2011, um neto seu de nome Mandla, que aos 39 anos é deputado e, sendo o neto mais velho é o chefe da comunidade tribal do vilarejo de Mvezo, pressentindo a morte do velho líder, programou seu sepultamento em Mvezo, onde construiu um memorial e para onde levou os corpos dos três filhos já falecidos de Mandela. O que ele pretendia era dar notoriedade ao lugar onde tem o seu grupo, mas, recentemente, face ao provável falecimento do avô, os demais parentes constataram a exumação feita à sorrelfa pelo neto, e protestaram. Dezesseis deles foram à justiça e requereram o retorno dos exumados. Como o governo civil tem prioridade sobre as ordens dos chefes tribais, deram ganho de causa à família e, os três filhos de Mandela foram novamente exumados, retornando seus corpos para Qunu. Por outro lado, os chefes tribais dos Thembus querem acabar com a carreira política de Mandla, pois ele é acusado de ter praticado um homicídio em 2005.
Ter o corpo de Mandela sepultado onde quer que seja, dará ao lugar um destaque especial. Captará turistas, gerará dinheiro. Mas, vamos esperar. Afinal, Mandela, até hoje, 12 de julho, continua em sua lenta agonia, ainda não morreu e, assim, sua vontade será feita.


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