sexta-feira, 19 de abril de 2013

A GERAÇÃO DA UTOPIA


Venho de ler o livro de Pepetela,  autor angolano de 71 anos que conta as décadas vividas pelos jovens da esquerda angolana em Portugal desde os bombásticos anos 60. Era um grupo de estudantes da Universidade, entre os quais havia mulatos e negros vindos de Angola e, ainda, brancos, filhos de antigas famílias colonizadoras daquela terra longínqua cuja capital era Luanda. Todos freqüentavam os diversos cursos e também a "Casa", centro acadêmico  de todos os cursos.
Entre eles havia agentes da PIDE, polícia política de Salazar, mas isso não era razão para evitar que, sob o manto do silêncio, formassem-se grupos adeptos da independência de Angola. Os brancos, mesmo nascidos na colônia, eram vistos com cuidado, pois se houvesse uma guerra de independência, eles perderiam suas terras cultivadas, seus bens, e as famílias teriam que voltar à Portugal. Mas, ao fim da década de 60, grupos inteiros deslocaram-se para Paris e daí para Angola, preparados ideologicamente  para a guerra de libertação.
 No início da década de 70, estes jovens enfrentavam com armas russas os embates da guerrilha contra os tugas, que eram os portugueses do governo Angolano. Em meados desta década de 70, Portugal teve a revolução dos Cravos e então as colônias foram libertadas. Mas as lutas internas não pararam por aí pois os grupos da guerrilha estavam fracionados e não havia acordo possível.
 O que Angola ganhou na década de 80 foi uma terra totalmente tomada por minas no solo que detonavam se alguém pisasse em cima. Assim, andar por caminhos e savanas era tão difícil como andar sobre arames, com a desvantagem de que o solo minado não era visível como o fio dos equilibristas. Então, os guerrilheiros  sorviam aguardente de palma, davam-se com  nativos de diversos clãs bem como faziam uso da "liamba" que lhes tornava os caminhos menos torturantes.  Angola estava livre dos portugueses e, suas instâncias superiores eram compostas de alguns destes companheiros que haviam chegado na frente.
 A década seguinte foi sombria. Os ex combatentes ávidos de poder, entregaram-se à corrupção. Alguns, fundaram igrejas de alto proselitismo, e os demais, retiraram-se às suas profissões ou à solidão das praias. Impossível não fazer analogia com a História do Brasil, onde os honestos acabaram na "praia".

 

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