Venho de ler o livro de Pepetela, autor angolano de 71 anos que conta as
décadas vividas pelos jovens da esquerda angolana em Portugal desde os
bombásticos anos 60. Era um grupo de estudantes da Universidade, entre os quais
havia mulatos e negros vindos de Angola e, ainda, brancos, filhos de antigas
famílias colonizadoras daquela terra longínqua cuja capital era Luanda. Todos freqüentavam
os diversos cursos e também a "Casa", centro acadêmico de
todos os cursos.
Entre eles havia agentes da PIDE, polícia política de Salazar,
mas isso não era razão para evitar que, sob o manto do silêncio, formassem-se
grupos adeptos da independência de Angola. Os brancos, mesmo nascidos na
colônia, eram vistos com cuidado, pois se houvesse uma guerra de independência,
eles perderiam suas terras cultivadas, seus bens, e as famílias teriam que
voltar à Portugal. Mas, ao fim da década de 60, grupos inteiros deslocaram-se
para Paris e daí para Angola, preparados ideologicamente para a guerra de libertação.
No início da
década de 70, estes jovens enfrentavam com armas russas os embates da guerrilha
contra os tugas, que eram os portugueses do governo Angolano. Em meados desta
década de 70, Portugal teve a revolução dos Cravos e então as colônias foram
libertadas. Mas as lutas internas não pararam por aí pois os grupos da
guerrilha estavam fracionados e não havia acordo possível.
O que Angola ganhou
na década de 80 foi uma terra totalmente tomada por minas no solo que detonavam
se alguém pisasse em cima. Assim, andar por caminhos e savanas era tão difícil
como andar sobre arames, com a desvantagem de que o solo minado não era visível
como o fio dos equilibristas. Então, os guerrilheiros sorviam aguardente de palma, davam-se com nativos de diversos clãs bem como faziam uso
da "liamba" que lhes tornava os caminhos menos torturantes. Angola estava livre dos portugueses e, suas
instâncias superiores eram compostas de alguns destes companheiros que haviam
chegado na frente.
A década seguinte foi sombria. Os ex combatentes ávidos de
poder, entregaram-se à corrupção. Alguns, fundaram igrejas de alto proselitismo,
e os demais, retiraram-se às suas profissões ou à solidão das praias.
Impossível não fazer analogia com a História do Brasil, onde os honestos
acabaram na "praia".
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