quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ETERNA VIOLÊNCIA

Meus caros leitores, estou de volta depois de tres semanas de retiro, semanas estas que corresponderam à do Natal e, depois, do Ano Novo. Este retiro eu me proponho a muitos anos pois tenho verdadeiro pavor da solidariedade falsa que se instala nos ambientes sociais, com obrigações de visitas, presentinhos, comidinhas e comilanças e, por aí vai. A única coisa que gosto efetivamente neste período são os pacotes de cerejas frescas, uma delícia que me sugere a volúpia e estimula a vontade de viver. O resto eu dispenso. Começo dispensando o caráter cristão da festa, pois os excessos de álcool e outras porcarias levam as pessoas a botar para fora os leões que rugem em seus inconscientes. E também, ninguém me garante que esse seja mesmo o aniversário de Jesus, criatura absolutamente ausente de historicidade pois os evangelhos são muito posteriores à sua dita curta vida. O Ano Novo merece também esse descrédito. Os orientais tem seus respectivos Anos Novos em períodos totalmente diferentes, mas são internacionalmente obrigados a levar em conta o calendário cristão porque os cristãos o impuseram com finalidade comercial, um dos objetivos do imperialismo global iniciado no século XVI. Entre tantos, prefiro os calendários calcados basicamente na natureza, mas essa, o próprio ser humano está dando conta de destruir, como se quisesse deixar um legado maldito aos filhos e netos.

Foi assim, com essa consciência histórica, que optei por saudáveis retiros. Não entendo bem o que as pessoas definem como violência. Se antes do Natal uma mercadoria custava Cem Reais e após o Ano Novo voltou a custar 50, a economia do mercado não teria praticado uma cruel violência contra o fruto do suor dos trabalhadores que gastam seus salários em presentes? Para mim, isto é um ato de violência mesmo. E, depois, o mundo se contorce em crises econômicas sem a menor moral para desestimular o consumo de quem quer que seja. Bem feito. O Capitalismo se autodestruirá ainda que ninguém saiba direito o que vai lhe suceder. Estamos frágeis, muito mais do que pensamos.

A mídia fez o favor de implantar na cabeça das pessoas que violência é o assassinato, a agressão doméstica, o abuso sexual, a criação de gangs para o mal, a guerra, a bomba, os desastre de carros, ônibus e caminhões cujos motoristas ingerem álcool etc. Por conta do tráfico de entorpecentes os estados mais populosos vivem em constante estado de guerra civil, as pessoas tem medo de sair de casa, admitem toque de recolher vindo do delinqüente e não da autoridade do Estado, os segmentos que delinqüem mesclaram-se aos que reprimem, e assim vivemos uma coreografia perversa. Tenho a sensação de viver num universo onde a mentira é cultuada como um deus. Mentindo, as igrejas roubam os dízimos de seus seguidores, o Estado cobra impostos que paguem o tamanho do rombo deixado pelos corruptos da economia nacional e mundial. Mentem os que dizem que falam em nome do Senhor até mesmo porque essa Força Suprema deixou aos homens o livre arbítrio. Meu velho pai dizia que “o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória”. Foi assim que ele me ensinou sem nenhuma religião, acreditando que apenas a ética salva o mundo. Depois do meu desabafo, pergunto: uma boa reflexão não teria o poder de nos tirar desta eterna violência que a “sociedade do espetáculo” criou?

Nenhum comentário: