terça-feira, 12 de junho de 2012

MULHERES QUE MATAM MARIDOS




A Rede Globo volta a apresentar o “remake” de Gabriela, novela baseada na obra de Jorge Amado com o singelo título de “Gabriela, Cravo e Canela”, que retrata a saga dos nordestinos que fogem da seca e a saga dos coronéis cujas terras e bens foram conquistados a tiros e assassinatos. Se a novela de agora tomar os mesmos rumos da que fez sucesso a décadas atrás, ela deverá começar com o assassinato de uma esposa pelo marido ciumento e, depois fará rolar o romance de Nacib e Gabriela dentro do contexto da sociedade do cacau. Jorge Amado não deixava passar em branco um tempo histórico de mutações sociais, de forma que, a cidade liderada pelo patriarca Ramiro Bastos, ao conhecer sua morte condena e leva para a cadeia o coronel que no início da trama torna-se uxoricida, ou seja, o assassino da mulher paga caro por ter matado em nome da honra.

Este tipo de crime, apesar da antecipação de Jorge Amado, teve desfechos de absolvição de réus até poucos anos atrás. Encontrava-se sempre uma forma de culpar a vítima para isentar o réu. Entre os últimos julgamentos rumorosos, na primeira metade dos anos 80 houve nas portas do Forum da Praça João Mendes uma verdadeira batalha entre camelôs e as feministas que esperavam a condenação do cantor Lindomar Castilho pelo assassinato de sua ex-esposa, Eliane de Grammont. Os camelôs queriam a absolvição, então, como o clima estivesse muito tenso, o Forum foi vedado ao grande público para não prejudicar os trabalhos da justiça. Assim, enquanto uma batalha campal se desenrolava na antiga Praça, lá dentro, o júri, não contaminado pela opinião pública, mandou o assassino para a cadeia, onde ficou pelo menos 7 anos vendo o sol nascer quadrado.

Bem mais raro, nem por isso menos grave, é acontecer o contrário. Normalmente, as mulheres traídas saem de casa e muitas vezes, não havendo intercessão da justiça, nem dinheiro recebem para manter a prole que levam consigo.

Então, a morte do senhor Kitano Matsunaga, é o reverso da medalha, trazendo o requinte do brutal método de descarte do cadáver. Elise fez literalmente picadinho de marido. Depois, com infantil inabilidade, jogou os sacos com o corpo do falecido lá para as bandas de Cotia, remetendo essa história terrível ao mito de Medeia que fugiu com Jasão após a conquista do velo de ouro, mas, para retardar a perseguição de seu pai, ia pelo caminho jogando pedaços de seu irmão Absirto, e o pai, seguia recolhendo os pedaços do filho. Mais tarde, Medeia foi traída por Jasão, então matou a rival e os próprios filhos... Mas, Elise ficará por aqui, presa, contida. Seu marido a traía e ela escolheu a vingança. Ela é uma assassina e, o morto, até agora não deu provas de uma conduta familiar razoavelmente boa. Ele traiu, ela matou. Não há atenuantes nem para a moral do moço nem para a vingança cruel da nova Medeia.

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