terça-feira, 17 de abril de 2012

TEM SAÍDA ?



Imagine você, meu companheiro , que um dia fomos para o agreste pernambucano e lá tivemos que sobreviver. Coca Cola? Sim, isso não falta em lugar algum. Mas, e a comida? Come-se o que há para vender na região. Então, que tal experimentar umas empadinhas de carne, crocantes e saborosas? Vamos lá, a fome é sempre maior que o senso crítico: as empadas, amigo, são mais gostosas que o pão borrachento usado para os sandubas de mortadela. Então, duas Cocas e quatro empadas. Tudo sem saber que, no longo processo de digestão, o seu organismo vai metabolizar e jogar na corrente sanguínea o que está contido nos melados da Coca Cola e nas massas e proteínas das empadas. É isso aí. Podemos continuar nosso caminho, nosso estômago aliviado. E agora, para onde vamos? É tão bom caminhar ao léu... Melhor ainda, depois de dias e dias de caminhada, conhecemos mais um pouco do Brasil e estamos em casa, no conforto do leito e no bem bom da mesa, quando, ligamos a televisão e ela nos mostra o filme da região por onde andamos... Só que a notícia é das mais terríveis: Um homem e suas duas mulheres assassinavam pessoas e, depois, aproveitavam o que não comiam para rechear as deliciosas empadas que vocês comeram. Comovente, não? Vocês também participaram desta insana comunhão, se bem que involuntariamente.
E agora? Há um só banheiro na casa, pouco espaço para vomitar. E vomitar também não ajuda, já está tudo metabolizado... Então, o coração se angustia. Meu Deus, comi carne humana sem saber, acabo sendo a cadeia final deste banquete macabro e nada posso fazer. Ora, deixa pra lá. Sua má experiência não foi a única nesta terra onde nosso maior canibalismo é comer o Corpo de Deus na santa comunhão. Eis o mistério da fé!
Bem, os assassinos já estão presos, sua casa foi incendiada pelo povo enojado. Mas, cuide-se. Pode ser que a experiência se repita, a gente nunca sabe.
Na Alemanha, durante a Segunda Guerra, fuzilaram uma velhinha bondosa que vendia bolinhos aos soldados. E os bolinhos eram feitos de algum incauto que ela atraía, matava, descarnava e aproveitava... Assim contava minha avó.
Quanto a mim, lembro de ter ido visitar uma amiga com bebê recém-nascido no Parque Continental, em São Paulo. Minha amiga Dirce fez um chá para nos oferecer. Disse apenas que a água não andava muito bem então ela fervia duas vezes. Tomamos os nossos goles de chá e voltamos para casa. Dias depois, Dirce telefonou: Sabem por que a água estava estranha? Porque mataram um homem e jogaram o corpo na caixa d’agua do condomínio. Tudo bem, você comeu empada de gente, eu e meu marido tomamos chá de defunto. Fique calmo. Existe sim pecado do lado de baixo do Equador, contrariando o velho Chico Buarque.

Um comentário:

Jônatas Karamigo disse...

Kredo, Karamiga, você está me lembrando aquela peça de Shakespeare, em que há um banquete com carne humana. Os pais comem os filhos ou os filhos comem os pais. Sem saber. A peça se chama Tito Andrônico e eu preciso reler porque esqueci a história.