quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CLAUDIO E LAURA


Pouco se fala de Claudio Manuel da Costa, o Inconfidente que “se matou” na prisão, em um cômodo pequeníssimo da Casa dos Contos, em Minas Gerais. Afinal, como os demais foram até o fim do processo e Tiradentes pagou por santos e pecadores, a Inconfidência Mineira acabou por se tornar uma cretina efeméride que deturpou os fatos e misturou personagens de maneira vigorosa. Só os maçons conferem algum brilho, mesmo que a maior parte deles jamais tenha lido “A Devassa da Devassa” de Maxwell. E assim, fica tudo volteado por uma nuvem que clama por documentos para afirmar de fato quem é quem na Inconfidência.
Laura de Mello e Souza, empenhou-se em contar a história de Claudio Manuel da Costa, o menos conhecido, talvez o mais desprezado por ter falado do nome de outros inconfidentes e depois se “suicidado” no cárcere. Como a formiguinha de arquivos que sempre foi, Laura buscou documentos, arquivos, usou de seu grande tirocínio histórico e escreveu uma biografia decente deste homem.
Naturalmente, voltou às origens do mesmo. Seus pais vieram de Portugal, estabeleceram-se numa várzea perto do Itacolomi, adquiriram escravos e pariram filhos. Cinco homens. Todos, mandados para fazer os Estudos Superiores em Coimbra com o que os pais ganharam na mineração. Claudio voltou formado e, imediatamente iniciou-se na vida pública de Vila Rica, como advogado que era. Aí, conheceu o amor de sua vida,uma negra com quem teve filhos e viveu até o fim de seus dias. Este casamento misto não podia ser reconhecido, desta forma, sua mulher morava em uma residência com os filhos e Claudio em outra, para não ferir os costumes locais, como fizera um parente seu Contratador de Diamantes, ligado à Chica da Silva.
No entanto, a administração portuguesa era instável. Claudio chegou a saudar o modelo “iluminista” do Marques de Pombal, porém Portugal queria ouro para se reconstruir do terremoto de Lisboa. Assim, os mineradores se rebelaram. Claudio foi preso e submetido às torturas da época. Que tenha falado do nome de companheiros, pode até ter ocorrido, mas a posição do cadáver onde foi encontrado morto, não sugere que tenha havido um suicídio.
Nesse passo da história, me abateu algo sinistro, como a morte de Wladimir Herzog. E o fato, é que permaneceu mais nebuloso ainda o lugar onde Claudio foi sepultado.
Esta obra de Laura de Mello e Souza foi escrita, se não estou equivocada, no momento em que seu esposo foi vítima de morte súbita, e ela sofria demais. Mas, nem o sofrimento abateu a poesia de sua obra. Por isso, afirmo: os sensíveis e os sábios, transformam lágrimas em diamantes.
Leia Claudio Manuel da Costa, de Laura de Mello e Souza, o que há de mais belo na literatura brasileira atual. A publicação é da Companhia das Letras, da série Perfis Brasileiros.

Nenhum comentário: