terça-feira, 15 de novembro de 2011

SUPORTAR O INSUPORTÁVEL


Quando o Imperador Hiroito do Japão assinou o acordo de rendição do fim da Segunda Guerra Mundial, ele sabia que além das fronteiras da nação japonesa havia um número enorme de súditos do Império, e que esses estavam sofrendo por parte das populações onde viviam agora, enormes humilhações. Então, ele escreveu uma carta dirigida a todos os filhos da terra do sol nascente, pedindo que “ suportassem o insuportável” para que a paz voltasse a reinar. Nem todos os japoneses que viviam fora do Japão aceitaram a rendição japonesa e a proposta do imperador; assim, alguns deles se colocaram na condição de guerreiros e passaram a matar, como traidores da pátria mãe, os conterrâneos que haviam atendido os apelos de Hiroito. Isso aconteceu depois de Hiroshima e Nagasaki terem sido arrasadas pelas duas bombas criminosas lançadas pelos EUA para forçar a rendição. Esse grupo de resistência teve atividades em São Paulo e nas regiões que haviam recebido no começo do século imigrantes nipônicos. Mas, apesar de cometerem alguns assassinatos, foram identificados pela polícia no Brasil, presos, e poucos anos depois, os que continuavam detidos foram libertados para seguir suas vidas. Esse fato é bem pouco explorado pela memória da imigração e pela própria história do Brasil, talvez porque já estivéssemos acostumados a ter memória curta e apenas queríamos viver bem. A frase que me ficou desse episódio todo foi justamente essa súplica do Imperador, “Suportar o insuportável”. E, hoje, eu diria que, nesta sociedade em que vivemos, a súplica do Imperador vale para todos nós, brasileiros, paulistas, mogianos. Em suma, vivemos dentro de uma sociedade em que, segundo o poeta medieval François Villon, “Nada me é certo senão a coisa incerta”
Num agrupamento humano pequeno como o de Mogi das Cruzes, como podemos estar seguros quando uma pessoa “da casa” mata com requintes de crueldade duas moças preparadas para viver um futuro profissional e pessoal promissor? Sim, existem bandidos, mas há uma linha divisória entre eles e as pessoas “de bem”; agora contudo o mal brota dentro das próprias quatro paredes! Suportar isso é suportar o insuportável.
Fora os bandidos, existem situações que saem fora do nosso raio de compreensão. Vou dar dois exemplos de coisas inacreditáveis que vi recentemente.
O primeiro diz respeito a um tratamento que fiz para um suposto glaucoma diagnosticado apressadamente em mim. O médico receitou-me um colírio de nome Lumigan, cujo princípio ativo é uma substância de nome Bimatoprosta. Com os meses de uso do tal colírio, meus cílios começaram a crescer e ficaram belíssimos. Pois não é que, mesmo sendo considerada uma droga relativamente recente, a indústria dos cosméticos se apropriou dela para criar “cremes de aumentar os cílios” e deixar o olhar mais fatal?
O segundo, quase me fez cair da cadeira. Saiu em publicação da Revista Claudia de novembro (pg.124) e trata do uso de uma substância de nome Victosa, própria para cuidar dos diabéticos tipo II com injeções diárias na barriga, tendo sua função desviada para o emagrecimento das gordinhas, visto que a Anvisa proibiu outras drogas muito usadas nos tratamentos de perda de peso. Ora, como vamos saber a médio e a longo prazo os efeitos dessas drogas no organismo das pessoas? No entanto, essa gente que busca o seu “padrão de beleza imaginário” não se questiona que virou um plantel novo de cobaias de laboratório, e entrega-se feliz ao sacrifício para atingir a utopia da perfeição.

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