terça-feira, 29 de novembro de 2011

OS TORMENTOS DO FIM DE ANO


Perguntei a um Psiquiatra amigo se ele ia sair de férias neste fim de ano e ele respondeu: “Não. Nessa fase do ano muitos pacientes precisam de socorro”. Evidente, o período Natalino exacerba uma infinidade de emoções, entre as quais a melancolia, o sentimento de solidão, tudo em contraponto com a doida corrida das pessoas para a montagem da Orgia Natalina. E foi por esse caminho que me lembrei de um pequeno artigo escrito por Claude Lévi-Strauss no início da década de 1950. Aqui, o antropólogo estruturalista debruçava-se sobre um fato ocorrido em 1951 em Dijon, na França. Naquele ano, entendendo que o Natal perdera o seu significado principal que é comemorar o nascimento de Cristo, o clero da região, apoiado até por gente protestante, reuniu frente à catedral uma multidão de pessoas, entre elas centenas de crianças, para assistir o enforcamento e, depois, a cremação de Papai Noel, considerado usurpador e herege e acusado de paganizar a festa de Natal e nela se instalar como um intruso.
Era evidente que as festas de Natal haviam ganho cada vez mais as feições do espírito Norte Americano, prestigiado com o fim da guerra.
Sabemos que o Natal é “uma festa essencialmente moderna, apesar dos múltiplos traços arcaizantes”, pontifica Lévi-Strauss, antes de embarcar numa análise mais profunda e chegar até as Saturnais romanas, festas pagãs que aconteciam no mesmo período na antiguidade e, depois, com pequenas novas formatações,à Idade Média.
Quando pequena, em minha casa sempre havia um tannembaun (pinheiro) enfeitado com bolas e pedaços de algodão. Debaixo da árvore apareciam os presentes, que não passavam de “recompensas” pelos nossos bons atos durante o ano. Deixando de lado a análise do antropólogo, eu fico até hoje me perguntando que tipo de escambo era aquele, que exigia boas ações em troca de um bem. Mas, passado meio século do suplício de Papai Noel em Dijon, rebelo-me com tanta intensidade porque reconheço no Natal uma histeria de compensações inúteis. Parece que a população perde o juízo. Todas as lojas ficam impenetráveis e nos principais centros, o ex-supliciado Papai Noel desce renascido de um helicóptero para alegrar a garotada. Pior, parece que traz no saco de brinquedos um decreto exigindo a felicidade coletiva, como se pudesse haver um anestésico momentâneo para as grandes dores crônicas do mundo. A televisão inunda seus programas com este carnaval antecipado e a mais periguete da novela se veste de Santa Claus. Valham-me os Orixás. Vou entrar em retiro, enquistar-me no lar, botar som na vitrola, comer pipocas e tomar café. Se fui boa este ano, que o ridículo escambo natalino me conceda somente sossego. Sem neuras e com muita paz.

Esta é a Ivone que se diverte mais com um bom livro do que com um shopping center.

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