quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ivone em 2010


Resposta de Educador

Como cientista social e educador, venho manifestar minha indignação e horror com o projeto de lei que propõe o toque de recolher para menores.
É uma medida inconstitucional, que fere as liberdades individuais. Em segundo lugar, já existem leis e mecanismos que tratam da delinqüência, bastando que sejam aplicados corretamente; bem como a legislação do ECA que espera por ser aplicada na defesa de nossos jovens. Porque os jovens que não delinqüem – a maioria – tem de pagar por alguns? Existe uma grande diferença entre jovens que voltam de uma discoteca ou tocam violão na calçada, com os que delinqüem. E certamente, não será com a criação de leis repressivas que isso se resolverá, ainda menos com leis de excessão. Certamente os jovens de classe alta continuarão a circular, e o peso de tal lei cairá sobre os mais pobres. Uma lei deste tipo aparece para remendar a incompetência e hipocrisia dos pais e a fraqueza das comunidades em dialogar com seus jovens e estabelecer regras de convívio e respeito mútuo.
O que mais é preocupante e não se discute, são os precedentes gravíssimos que isso abre. O que virá depois? Leis anti-mendigos? Toque de recolher para adultos? Leis para dispersar grevistas e proibir protestos? Censura? Chegará um dia em que só possamos circular com salvo-conduto? Realmente, tal proposta não é um ato de humanidade, mas um resquício de ditadura militar e um retrocesso social fascista que abre precedentes gravíssimos, um ataque a todos da classe trabalhadora, e que só pode ser apoiado por pessoas desavisadas e sem memória histórica, que não sabem o que estão falando. Cabe a sociedade e aos senhores vereadores arquivarem tal projeto. E aos que o apóiam, refletir mais sobre suas responsabilidades como pais e educadores, e estudar um pouco de História. Sabemos muito bem aonde este tipo de coisas vai dar.

Paulo Marques

pvmdias@usp.br

Toque de Recolher

CRIAR FILHOS

Este “Toque de Recolher” está dando o que falar. Alguém arrotou esta idéia de jerico e tem pais gostando. Pais fracassados, diga-se de passagem, porque pais competentes sabem que devem ter autoridade sobre os filhos e lhes dar bons exemplos. Depois, vem o Bufão do Planalto contra as palmadas...Vejam só, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come! Liberdade versus ditadura, simples assim, e os tapados acham que vão viver gozando dos benefícios de um ou de outro sistema social ou político. Tudo para justificar a incompetência de pais e governantes.
Sou mãe de família. Meu marido e eu, que lutamos contra a ditadura, criamos dois filhos, o Paulinho e a Madalena, trabalhando muito para que tivessem bons estudos e fossem respeitosos. Quando eram menores de idade, não os deixávamos sair sem conhecer o destino e saber que horas voltariam. Muitas noites fomos buscá-los nas festas, e seus dias eram ocupados com os deveres da escola e outras pequenas tarefas.
Deu certo? Penso que sim. Liberei-os aos 17, quando se tornaram alunos da USP, então entreguei-os ao mundo mais bem defendidos do que eram na infância ou início da adolescência. Agora, são adultos. Para minha alegria, Paulinho defende seu Mestrado na mesma USP, na metade de setembro. Mestrado, aliás, sobre Educação, Política e Sociedade. E Madalena, lança um belo livro sobre Mogi das Cruzes colonial, assunto a que se dedicou durante anos de pesquisa. Nossa felicidade de pais destes dois, é a compensação dos esforços de todos. É por isso que me irrita esse discurso de toque de recolher, além do discurso contra as palmadas.
Meus filhos não precisaram apanhar. Sabiam que a relação pais/filhos não era horizontal, e sim, vertical. Eles estavam lá para serem protegidos; nós, para educá-los e estimulá-los nas carreiras que escolhessem.
Agora que estamos mais velhos, muitas vezes somos importunados por uma garotada infernal que joga futebol na rua e estraga nossos portões. As mães assistem suas novelas. Mas, quando vejo jovens importunando os outros, sei que meu bairro não tem um único lugar onde possam jogar e se divertir como precisam. São órfãos de pais vivos e cidadãos sem governo que lhes ofereça destino. Assim, dane-se o Tobias, dane-se o Lula, danem-se os pais irresponsáveis. Educação requer cuidados especiais, tanto o Estado quanto as famílias tem igual responsabilidade. Precisam pensar que colocar filhos no mundo exige doação de si mesmo durante muitos anos. E o Estado, que se descaracterizou porque transferiu suas funções às empresas multinacionais, perdeu de vez sua autoridade. Às empresas, interessa apenas criar exército de mão de obra de reserva, para, no futuro abortar inconformismo de trabalhadores mal pagos.