terça-feira, 8 de setembro de 2009

Feriado Cívico

FERIADO

Aprendi a cortar os cabelos do meu filho. Ele não tem muitos fios na cabeça, em todo caso, é sempre uma obra de arte manipular máquinas e tesouras, sem deixa-lo com menos cabelo ainda. Dez reais. Economia doméstica pura; em contrapartida ele lavou a louça do jantar. Também, esse feriadão longo deu para fazer muita coisa, do supermercado à leitura de jornais e revistas. Deu até para saber que o Lázaro Ramos e a mulher vivem em casas separadas mas se visitam com freqüência, maior do que os amigos comuns. Deu pra dormir bastante. Deu para ler mais um trecho do Quarup, de Callado e brincar de budipoque no Orkut. Mas, chegou a terça feira, o tempo dos desfiles e do ócio passaram, e eu vi no jornal de terça um maçon de luvas brancas (claro, eu que sou cunhada também tenho uma, ainda que não saiba o que fazer com ela)
Então, fiquei a matutar no meu matutômetro, qual o papel real que a maçonaria teve nos acontecimentos nacionais. Pelo menos uma coisa é certa. O Dom Pedro não era maçon coisa nenhuma. Ele gostava mesmo era de mulheres, mas, como estava rodeado de senhores sérios, não podia passar em branco que ele berrara Independência ou Morte. Então, fizeram no Rio uma sessão solene e ele foi guindado ao grau 33 e Grão Mestre da referida ordem. Assim: bem coisa tipo “Doutor Honoris Causa”. Como se percebe, o Brasil tem suas mandracarias desde as origens.
Longe de mim criticar ou entrar em polêmicas quanto aos símbolos pátrios, mas garanto que Moacir Franco tem mais popularidade que D.Pedro I. Rio Negro e Solimões, então, nem se fala. Ou seja, o passado se perdeu porque nem era tão interessante. O presente ganhou porque dá pão e circo com fartura à população.
Será que essa ótica nihilista pega bem? Claro que não. Viver feriados só porque o são, deixa no ar um certo clima de mofo, de ignorância, de absoluto desentendimento em saber interpretar símbolos.Talvez o símbolo mais forte que se tenha esquecido, foi o da Liberdade. Ser livre para cortar os cabelos do filho. Ser livre para pensar e escrever sem as cutiladas da censura. Ser livre até para não ser livre, e escolher um marido mandão. Ser livre para escolher um presidente bufão e um senado de pé quebrado. Ser livre para se corrigir. Ser livre para cooperar, para conviver, para dividir, para amar, para negar.
Só que a liberdade tem um preço alto. Significa não delegar poderes para que os outros ajam em seu nome. Ter coragem. Não aceitar mandracarias a que me referi. Defender livremente a natureza da qual fazemos parte e, sobretudo, num clima de fraternidade e solidariedade. Ser livre para não usar luvas na hora de hastear a bandeira. Mostrar as mãos limpas. E, de princípio, prontas a lutar pelo preço da liberdade.

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