terça-feira, 26 de maio de 2009

Perdas irreparáveis

Semana passada, não escrevi minha coluna porque meu irmão havia falecido após curta e dolorosa doença. Minha cabeça ficou tão oca que era impossível até chorar. Nesta segunda, abro a Folha e leio a notícia do falecimento de Mario Benedetti, escritor uruguaio pouco lido no Brasil. Você já leu Benedetti? Tenho em minha frente três obras suas: Gracias por el fuego, A trégua e Primavera num espelho partido. Mário deixou uma obra alentada, mas as editoras brasileiras, demoraram a traduzi-las. Como elas foram censuradas por razões políticas, ficaram por décadas no esquecimento. Depois, tem essa coisa: o mercado editorial quer lucro, então fica mais fácil investir em auto-ajuda ou literatura especulativa. Vai daí que, alta porcentagem de páginas impressas não alimenta o cérebro, apenas as finanças, então, porque editar gente como Benedetti, um exilado político nas ditaduras dos anos 70? Assim, ele foi esquecido. É como se a América Latina só tivesse Vargas Lhosa, Isabel Allende, Gabriel G. Marques e, num segundo momento, Borges, Neruda e Carlos Fuentes. No entanto, a América Latina é um celeiro de talentos literários e, acrescentando o Brasil, eu diria sem medo que vivemos no século XX a mesma grandeza literária que a Europa .
Mario Benedetti viveu 88 anos. Dos livros dele, Gracias por el fuego e Trégua trabalham com dramas existenciais, com o sentimento de impotência para melhorar a situação do mundo, e também com a ternura que pode amenizar o impasse de uma aposentadoria. Belos livros, traduzem sofrimentos da alma para reconduzir suas buscas. Mas, Primavera num espelho partido, consegue chutar o pau da barraca das convicções humanas.
Existe amor? Por certo existe. Mas ele acaba? Talvez não, porém se esgarça ao longo do tempo, no distanciamento objetivo e nas intenções humanas. É isso que acontece com as pessoas em tempos de guerra e repressão. Esta, foi a história da minha juventude. Reconheci-me no livro. Com a morte de Benedetti, tudo veio à tona. Meus olhos represados desde a morte do irmão, agora abriram-se em cascata. Chorei até molhar o travesseiro e os lençóis. Pelo Sergio, pelo Mário e por todas as dores do mundo.

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