terça-feira, 1 de julho de 2008

DE OLHOS ABERTOS

DE OLHOS ABERTOS

Se eu passar por uma rua onde tem um botequim,
E lá dentro uma louquinha bebe,
Se ela sair num repente alucinado e
Quase se jogar sob um carro de passante.
Se eu esquecer que ela existe e não tem roupas,
Nem calçados, nem ninguém;
Se os meus olhos desviarem e seguir em frente
Pensando apenas no presente do meu filho,
Tenha certeza, amigo, merecerei o escárnio dos anjos
E o desprezo dos céus.
Não pode ser festa a quem não sabe
Da dor alheia, da fome dos irmãos.
Não terá tempo novo quem não vive
O tempo velho com os olhos bem abertos.

Minha cidade há de acender as luzes
E catar em cada esquina um menor abandonado.
As mãos sensíveis levarão os curativos
Às feridas supuradas dos carentes.
Flores nas praças são colírios para os olhos,
Mas há de ter lugar aos namorados
Que o medo se esvaneça sob a lua,
Que sonhar volte a ser bom exercício.
Abram-se as janelas, cumprimentem-se os vizinhos,
Troquem os docinhos, falem do futuro.
Quero dançar na praça uma valsinha
Ao som da banda, ao lado do coreto. Dormir em paz,
É o sonho que acalento
A ti, a mim e a quantos estejam
de olhos bem abertos.

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