quinta-feira, 13 de março de 2008

Gracias por el fuego

Gracias por el fuego

MARIO BENEDETTI, escritor nascido no Uruguai em 1920, merecia mais divulgação na midia brasileira, inclusive um tratamento editorial mais persuasivo. Trata-se na verdade de um tremendo romancista que lida com o intimismo e que, da década de 1960 para cá só fez edulcorar um tanto suas construções literárias. Tomando como base GRACIAS POR EL FUEGO e, depois, como construção delicada, seu magnífico A TRÉGUA, podemos sem susto sair dos clássicos Gabriel Garcia Marques, Vargas Lhosa, Izabel Allende, Borges, Neruda, Carpentier, Paz e outros, para reconhecer um Uruguai onde o drama existencial de um personagem se torna o ponto de partida para o reconhecimento desta Suiça sul americana onde toda a corrupção se tornava possível e, descaradamente aniquilava qualquer questionamento. Estamos falando da década de 60, do poder da imprensa e do pré advento das ditaduras que assolaram a América do Sul.
GRACIAS POR EL FUEGO tem uma edição de 2006, traduzida para o português por Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito (L&PM Pocket), que torna acessível aos brasileiros esta obra duramente censurada no Uruguai, na Argentina e na Espanha. Trata de um pai de família, dono de Agência de viagens, negócio que lhe garante bom status econômico, mas de maneira alguma, a felicidade. Filho de político e empresário da imprensa, seu próprio ganha-pão tem origem no dinheiro "sujo" que seu pai lhe emprestou. O nexo lógico da obra repousa num drama ético, adicionado a outros dramas existenciais que lhe roem as bases. Para resolver o drama, só lhe restam duas alternativas :- ou mata o pai ou consome-se na dor da impotência frente aos fatos da vida.
A narrativa de Benedetti é ágil, e os argumentos de meio século se colocam hoje com uma atualidade impressionante
Em A TRÉGUA, Benedetti coloca de lado a questão ético-política. Vê apenas o homem em vésperas de tornar-se improdutivo pela aposentadoria. (Ed. Objetiva, tradução de Joana Angélica D'Avila Melo)
Ambos os livros merecem um passeio do leitor brasileiro. Sem Benedetti, a literatura latino-americana seria mais pobre.

Um comentário:

janio lima disse...

Mario Benedetti foi um escritor de grande indole acabei por acaso encontrando o livro A TREGUA pesquisei na internet toda sua vida e me tonei leitor assiduo. É extraordinário o Mario Benedetti. Abraços e parabens pelo texto em dedicação a esse poeta desconhecido aqui no Brasil.