MARIO BENEDETTI, escritor nascido no Uruguai em 1920, merecia mais divulgação na midia brasileira, inclusive um tratamento editorial mais persuasivo. Trata-se na verdade de um tremendo romancista que lida com o intimismo e que, da década de 1960 para cá só fez edulcorar um tanto suas construções literárias. Tomando como base GRACIAS POR EL FUEGO e, depois, como construção delicada, seu magnífico A TRÉGUA, podemos sem susto sair dos clássicos Gabriel Garcia Marques, Vargas Lhosa, Izabel Allende, Borges, Neruda, Carpentier, Paz e outros, para reconhecer um Uruguai onde o drama existencial de um personagem se torna o ponto de partida para o reconhecimento desta Suiça sul americana onde toda a corrupção se tornava possível e, descaradamente aniquilava qualquer questionamento. Estamos falando da década de 60, do poder da imprensa e do pré advento das ditaduras que assolaram a América do Sul.
GRACIAS POR EL FUEGO tem uma edição de 2006, traduzida para o português por Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito (L&PM Pocket), que torna acessível aos brasileiros esta obra duramente censurada no Uruguai, na Argentina e na Espanha. Trata de um pai de família, dono de Agência de viagens, negócio que lhe garante bom status econômico, mas de maneira alguma, a felicidade. Filho de político e empresário da imprensa, seu próprio ganha-pão tem origem no dinheiro "sujo" que seu pai lhe emprestou. O nexo lógico da obra repousa num drama ético, adicionado a outros dramas existenciais que lhe roem as bases. Para resolver o drama, só lhe restam duas alternativas :- ou mata o pai ou consome-se na dor da impotência frente aos fatos da vida.
A narrativa de Benedetti é ágil, e os argumentos de meio século se colocam hoje com uma atualidade impressionante
Em A TRÉGUA, Benedetti coloca de lado a questão ético-política. Vê apenas o homem em vésperas de tornar-se improdutivo pela aposentadoria. (Ed. Objetiva, tradução de Joana Angélica D'Avila Melo)
Ambos os livros merecem um passeio do leitor brasileiro. Sem Benedetti, a literatura latino-americana seria mais pobre.
Um comentário:
Mario Benedetti foi um escritor de grande indole acabei por acaso encontrando o livro A TREGUA pesquisei na internet toda sua vida e me tonei leitor assiduo. É extraordinário o Mario Benedetti. Abraços e parabens pelo texto em dedicação a esse poeta desconhecido aqui no Brasil.
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