segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Credo II

CREDO II

Recebi de muitas pessoas que leram minha última crônica Credo, uma avalanche de solidariedade. Hoje vou responder a estas pessoas o que sinto e talvez, elas também. Minha juventude aconteceu no tempo da ditadura. Não havia honestidade nem direitos humanos. Naquele tempo, uma leve suspeita nos levava ao cárcere, e eu sei quantas vezes isso aconteceu comigo. Em 1968, na semana da Pátria, uma ação guerrilheira seqüestrou no Rio de Janeiro o embaixador dos EUA. O governo trocou o americano por 15 militantes de esquerda entre os quais estava o cínico José Dirceu. Até a anistia, passaram-se onze anos, uns fugiram do país, outros foram trocados em novos seqüestros e, outros ainda se exilaram discutindo política nos cafés parisienses. Para nós que ficamos aqui, foi um sufoco tão grande, um morticínio tão cruel, que os remanescentes são chamados de sobreviventes. Neste meio estava eu. Em 72 e 73 fui alvo da repressão. Grávida de meu primeiro filho , tinha 26 anos de idade. Barriguda, tentaram me estuprar. Bateram em mim, jogaram-me violentamente contra as paredes daquele cubículo infecto do DOI-CODI. Na última prisão, fui devolvida à minha irmã num estado lastimável, e quando ela me deixou em casa, eu era um trapo e o sangue vertia vagarosamente entre as pernas. O médico me internou. O sangue era o de menos. A Pré-eclampsia podia matar. Um dia depois, ele abriu minha barriga frente ao meu marido. Nasceu um lindo menino de 3 kilos de peso. Eu o vi e foi tudo. Três dias mais tarde, ainda estava no oxigênio, e o pediatra me contou que meu menino morrera, seu pulmão murchou. De lá para cá nunca mais fui a mesma. Sou uma sequelada. E, a mim, não interessam ditaduras nem de esquerda, nem de direita. Só a liberdade pode ser o máximo ponto da vida. Por Deus e pelo meu filho perdido.
Então esperei a anistia. Depois vieram o Sarney, o Collor, O FHC e, finalmente o Lula. O projeto de neo-liberalismo neste país foi de vento em popa. FHC privatizou o que pode, e o Lula, traiu a todos, dando esmolas aos mais pobres e cortando direitos dos trabalhadores.Os desvios de verba se multiplicaram, a corrupção ficou endêmica. É por isso, meus amigos, que só me resta crer nos jovens que vem por aí. Que Deus os guarde.

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